Heitor Alimonda completaria 100 anos em oito de dezembro de 2022. No entanto, sua passagem em 2002, vítima de câncer, deixa a todos da família, amigos e colegas de profissão, enfim, toda a comunidade com saudades e boas lembranças do legado do Professor Alimonda para o ensino do piano no Brasil e sobre a música clássica brasileira. Sempre irreverente e simpático deixou um legado imenso para o piano clássico no Brasil e tem um lugar cativo quando o assunto é estudo e ensino de piano na Escola de Música da UFRJ.

Além da sua grande carreira como solista em concertos mundo a fora, Heitor Alimonda também foi contemplado como cidadão honorário de algumas cidades dos EUA e até do Brasil, foi carinhosamente condecorado cidadão carioca por levar a música clássica brasileira por onde fosse. Veja detalhes dessas passagens, aqui.

Araraquarense de nascimento, Heitor passou a maior parte de sua vida morando no Rio de Janeiro, onde construiu sua família e fez parte do quadro de magistrado da Escola de Música da UFRJ (também sua casa) desde 1953, passando por diversos cargos. O posto de professor titular de piano funcionava em paralelo com a carreira intensa de concertista e como um grande expoente da música de câmara brasileira, da sua geração. Heitor criou os grupos Sexteto do Rio e Ars Barroca, onde foi pianista e cravista respectivamente. Ambos os grupos foram de grande sucesso na década de 1970, premiados e considerados grandes divulgadores da música clássica brasileira à época.

O Sexteto do Rio, criado em 1969, teve várias obras de autores brasileiros escritas especialmente para o grupo. Foi considerado o melhor conjunto de câmara nos anos 70. Integrantes: Celso Woltzenlogel, na flauta;  Paolo Nardi e Kleber Veiga, oboés,  José Cardoso Botelho, clarineta, Noel Devos, fagote, Zdenek Svab, trompa e Heitor Alimonda, ao piano
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Ars Barroca foi o grupo onde Heitor Alimonda era cravista. ARS BARROCA fez grande sucesso em todo o Brasil nos anos 70 e contava com os seguintes músicos: Celso Woltzenlogel, na flauta; Paolo Nardi, oboé, Antonio Guerra-Vicente, Violoncelo, Noel Devos, fagote e Heitor Alimonda, no cravo.

Outras obras compostas e/ou interpretadas por Heitor Alimonda podem ser apreciadas neste link aqui.

Concerto em homenagem ao centenário de Heitor Alimonda pela AEXPEM

O concerto organizado pela AEXPEM (Associação de ex-professores da Escola de Música da UFRJ), em homenagem ao centenário de Heitor Alimonda, aconteceu no dia 27 de outubro de 2022, no auditório da Academia Lorenzo Fernandes, na Lapa, Rio de Janeiro, bairro que foi a casa de Heitor por muitos anos. O concerto teve apresentação dos pianistas Cecília Pessini e Sérgio André, ambos ex-alunos do Professor Alimonda.

Além de composições do Alimonda, os pianistas tocaram obras de amigos e ídolos do grande pianista. O programa do concerto incluiu as composições Estudo 10 – Andante e Três Brincadeiras (Dedicadas a João Carlos Martins) de Heitor Alimonda. Além destas, Cecília Pessini tocou Intermezzo opu 118 nº 2 e nº 6, de Brahms, e Reflets dans l’eau e L’isle Joyeuse de Claude Debussy, compositor muito estudado por Heitor Alimonda, sobre o qual sabia detalhes da forma com que tocava.

Sérgio T. André, também ex-aluno de doutorado de Heitor Alimonda, tocou obras do grande amigo e parceiro musical de Alimonda, Claudio Santoro, Sonata nº4, Allegro Decciso, Andante e Alegro Molto, além de Prélude et Noturne Op. 9 pour la main gauche, de A. Seriabin, e Três Brincadeiras de Heitor Alimonda.

Sérgio André comentou sobre como o Professor Alimonda o incentivou a tocar com apenas uma das mãos, como havia se machucado. E esta era a tônica das aulas de Heitor Alimonda, sempre incentivando seus alunos a tocarem e se apresentarem em recitais, concertos e festivais, dando o melhor de si e quebrando os desafios. Ele incentivava o estudo profundo do piano por todos os seus alunos, além do amor por tocar.

Talvez esta característica possa ter lhe levado a fazer uma de suas grandes obras, “O estudo do piano: elementos fundamentais da música e da técnica de piano em dez cadernos”, dando um tom brasileiro à forma de se estudar e lecionar piano clássico por aqui, trazida da Europa.

A lembrança que eu tenho do professor Heitor Alimonda, aliás, muito viva, é de uma pessoa totalmente dedicada à música.
 
A meu ver, a grande paixão da vida dele foi a música, aí incluindo a nossa querida Escola de Música da UFRJ onde, além de professor, ele foi vice-diretor. Freqüentava diariamente a Escola, de manhã e de tarde e, muitas vezes, ia também, nos finais de semana.
 
Adorava tocar, estudar, lecionar, participar da vida acadêmica, ler sobre os mais diversos assuntos e pesquisar sobre a música, o piano, e a vida e obra dos grandes músicos. Isso fez com que ele possuísse vastíssima cultura geral, além da musical, e dominasse enorme repertório, que incluía do Barroco ao Contemporâneo.
 
Além do piano, ele também tocava cravo e compunha. Escreveu diversas obras para piano, destacando-se a sua série de 10 CADERNOS de ESTUDOS, pela qual ele nutria especial apreço. Esses 10 álbuns, em abordagem muito diferente da usual, abrangem desde o primeiro momento da colocação da mão no instrumento, até uma técnica bastante desenvolvida no último volume, cujos três últimos Estudos tive a honra de gravar em LP, com o apoio e incentivo dele.
 
Aliás, devo também a ele o privilégio de ter gravado os Concertos de BACH para três e quatro pianos, em CD patrocinado pela Fundação Universitária José Bonifácio. Este CD, lançado em 2000, comemorou o Jubileu de Prata da Fundação e os 250 anos de falecimento de BACH. Inclui o Concerto em Dó maior para 2 pianos e Orquestra, que ele tocou com a professora Esther Naiberger, o Concerto para 3 pianos, em ré menor, que ele tocou comigo e com a pianista Sonia Maria Vieira, e o Concerto para 4 pianos, em lá menor, do qual participamos os 4: o professor Alimonda, dona Esther, Sonia e eu, sob a regência do maestro Henrique Morelenbaum.
 
O professor Alimonda foi responsável pela primeira audição de inúmeras obras brasileiras em Bienais de Música Contemporânea e nos Panoramas da Música Brasileira Atual. Dessas peças, muitas foram a ele dedicadas.
 
Músico incansável, sempre aliou a atividade de recitalista brilhante à de professor, formando várias gerações de pianistas.
 
Acho que ele faz muita falta no cenário musical brasileiro por tudo que ele passava de conhecimento musical e, sobretudo, de AMOR pela música.

Maria Helena de Andrade – Presidente da AEXPEM e amiga de Heitor Alimonda

Outro grande amigo, pianista, professor de piano e ex-aluno do Alimonda, Paulo Peloso, esteve na homenagem e fez a introdução ao concerto, e contando sobre a importância de Heitor Alimonda para a música clássica brasileira.

O carisma e humor de Heitor Alimonda também foram lembrados na homenagem realizada pela AEXPEM e, com certeza ficarão na sua história por mais séculos. Todos que conheceram o Alimonda, seja na Escola de Música, no Leblon, Copacabana, São Conrado ou na Lapa foram marcados pela boa energia e simpatia do Professor Alimonda. Além do piano e do cravo, Alimonda tinha hobbies como o desenho, a pintura, a culinária e a magia.

Heitor, além de meu tio e padrinho , foi um grande amigo na época em que moramos no Rio, de 1967 a 1980. Num dos aniversários da nossa filha Maria, ele se propôs a fazer mágicas para a criançada pois era o seu hobby. Sempre será lembrado com saudades .Robert e Elisa.

Robert e Elisa Haller

Não à toa, Heitor Alimonda sempre reuniu grandes pessoas em torno de si, pela música, pelas lições de piano ou para um bom papo. De Tom Jobim a Claudio Santoro, de Arnaldo Cohen a José Leitão (fotógrafo oficial da Escola de Música da UFRJ), todos eram parceiros de Heitor Alimonda e realizavam juntos.

Gostaria de expressar um milhão de palavras, infinitos elogios ao mestre, compositor e grande pianista que foi o nosso tio Heitor Alimonda, mas hoje me sinto à vontade para recordar com saudades o seu carisma e humor que encheu de alegria nossa infância e juventude quando hóspede na casa de meus pais. Foram momentos que jamais esqueceremos, uma liberdade para nós desconhecida.
Sinto o seu dedilhar no teclado do piano de mamãe, deixo-me embalar na saudade de uma época que ficou para sempre.
Nosso Tio Heitor é imortal!

Ada Maria, sobrinha de Heitor Alimonda e filha de Ada Alimonda
Foto da homenagem feita a Heitor Alimonda pela Escola de Música da UFRJ em 2012 – acesse.

Eu, Joanna Demétrio Alimonda, sou a primeira de cinco netas do grande Heitor Alimonda. Foi uma honra ter escrito essa página sobre um pouco da história do meu avô e seu legado na música clássica. Este grande homem, músico e artista me apresentou a música clássica, o piano e me levava nos eventos da Escola de Música da UFRJ, à Sala Cecília Meireles, entre outros. Por tudo isso e por tudo o que vivemos juntos, sou grata.