Biografia
Lydia Alimonda
Lydia Alimonda, como o seu irmão, o pianista e compositor Heitor Alimonda, era conhecida não apenas pelas suas qualidades de intérprete mas também pelo seu trabalho de difusão cultural no Brasil e na Europa. Como coordenadora da seção cultural do Consulado Geral da Áustria realizava intenso trabalho de divulgação de valores musicais austríacos, um trabalho pelo qual seria posteriormente condecorada com a Cruz de Honra de Artes e Ciências da Áustria.
Com o Duo Alimonda – criado em 1959 com a sua irmã, Altea Alimonda -, e a participação do violoncelista Calisto Corazza, executara, entre muitas outras obras, os trios de F. Schubert, inserindo-se assim em tradição cultural de profundo significado para a identidade austríaca, sempre tão marcada pelas “Schubertiadas”.
Esse vínculo da artista com o mundo centro-europeu de língua alemã tinha antigas raízes. Após ter recebido formação na escola do professor e compositor Agostino Cantù (1878-1943), em São Paulo, e ter-se aperfeiçoado nos Estados Unidos, estudara música de câmara em Zurique, com Paul Grümmer ,e, em Viena, piano com o internacionalmente renomado Bruno Seidlhofer. Aqui recebera formação que a qualificou como profunda conhecedora da obra dos autores vienenses, assim como da cultura e da mentalidade austríacas. Ao mesmo tempo, dedicou-se à divulgação da música brasileira em concertos radiofônicos na Suíça (Beromünster) e na Alemanha (Stuttgart) nos anos posteriores à Segunda Guerra.
Já nos concertos realizados na época constata-se uma particular atenção dada pela artista a obras que representavam um diálogo com a cultura popular tradicional do continente americano. Não apenas executou obras de H. Villa-Lobos e Camargo Guarnieri mas também, em notável empreendimento, a Rapsódia negra, de John Powell. Aliás, também o seu irmão possuía um particular vínculo com a cultura musical de outros países americanos, tendo atuado como professor no Paraguai. Para os observadores de iniciativas e de esforços de difusão cultural, porém, o que surgia como mais surpreendente não era a consideração de obras de compositores brasileiros já consagrados da estética nacionalista, mas sim o fato de a artista ter gravado os 20 Cantos Caipiras de Ascendino Theodoro Nogueira (Chantecler), uma vez que ligava o seu nome aqui aos esforços de um compositor que procurava valorizar uma esfera cultural e sócio-cultural ainda estigmatizada. A abertura da artista para o mundo da cultura caipira poderia talvez ser procurado na sua própria origem interiorana, uma vez que nasceu na cidade de Araraquara. Aliás, a cidade de Araraquara desempenhou papel significativo na história da música paulista do século XX.